Calamidade em Pedrogão Grande #100palavraspordia 48/100

por Monica Sona
Nem sei bem como começar…
Antes do fogo chegar à aldeia dos meus avós, matou 61 pessoas, 62 ficaram feridas, famílias inteiras que morreram, crianças, enfim um rasto cinzento e cheio de dor.
A aldeia dos meus avós fica no concelho de Góis, local que visito várias vezes ao ano e onde passo parte das minhas férias. Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera, são terras que também me dizem muito pela proximidade e pelas pessoas que conhecemos.
Tenho ouvido testemunhos surpreendentes e histórias trágicas, é impossível ficar indiferente e não deixar cair uma lágrima, podia ter sido eu ou podias ter sido tu, podia ter sido a minha família ou podia ter sido a tua.
E saber que exactamente neste momento as Cortes está cercada pelo fogo, sem electricidade e que a água que chega à aldeia vem quase sem força, dá um aperto muito grande. Longe e sem poder fazer nada, só me resta desejar a todos os que lá se encontram que tenham muita força e coragem, porque é definitivamente assustador.
Este pesadelo não é de hoje, nem de ontem é de sempre, desde pequena que assisto a incêndios, uns anos mais graves que outros mas como este não tenho memória.
Não é inédito a aldeia de Cortes ficar cercada pelo fogo, no inicio da década de 90 lembro-me bem do desespero dos meus avós e de todos os habitantes a unirem-se para colocar famílias e bens a salvo, lembro-me bem da expressão de aflição nos olhar da minha avó, são coisas que ficam cravadas para sempre na nossa memória.
Não querendo arranjar culpados, só quero apenas dizer que memórias destas ficam cravadas naqueles que passam por elas, porque os outros, aqueles que podem definitivamente fazer alguma prevenção ou arranjar meios de combate eficiente, amanhã já não se vão lembrar de nada e as florestas vão continuar à mercê de alguma mão criminosa ou fenómenos da natureza.
Com uma catástrofe destas os bombeiros não têm mãos a medir e é urgente que entre em acção outras forças com experiência.
E agora estas palavras vão para aqueles que mandam, os que têm toda a informação e todo o nosso dinheiro na mão, quando estiverem sentados a decidir que tipo de prevenção e de atitudes deverão tomar para que situações destas não voltem mais a acontecer, que pensem antes de voltarem a adiar alguma situação, por falta de entendimento partidário, porque hoje foram famílias que vocês não conhecem mas que amanhã pode ser alguém muito perto de vocês.
Ajam em conformidade com as vossas competências, e façam bem mesmo que ninguém vos esteja a ver.

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