A infertilidade em Portugal

por Monica Sona

O que é a infertilidade?

Segundo a Organização Mundial de Saúde, é considerada infertilidade de um casal, quando não se consegue gravidez após um ano de relações sexuais desprotegidas e regulares, este tempo baixa para 6 meses a partir dos 35 anos da mulher.

 

Na realidade uma a cada seis mulheres tem dificuldade em conceber, e mesmo as mulheres férteis, que têm relações sexuais sem proteção, só têm uma probabilidade de 20% de engravidar em cada mês.

in Manual da gravidez semana a semana, Porto Editora

 

Estima-se que em Portugal cerca de 9 a 10% dos casais sofram de infertilidade.

A infertilidade pode ter origem na mulher, no homem ou em ambos, e existem casos em que não se consegue identificar nenhuma causa de infertilidade. Independentemente do diagnóstico é importante reforçar que este é um processo do casal e não individual, mesmo que o problema esteja identificado num dos membros do casal.

É importante saber que ao fim de um ano de tentativas, o ideal é procurar ajuda médica. As decisões certas no tempo certo fazem-nos poupar muito tempo. Recorrer a técnicas de procriação medicamente assistida não tem de ser um tabu,  é uma forma muito inteligente de resolver este obstáculo. Se quando nos dói um dente vamos ao dentista então se não conseguimos engravidar é procurar um especialista. 

Existe uma autoridade competente que regula, disciplina e acompanha a prática de procriação medicamente assistida (PMA) em Portugal que é o conselho nacional de procriação medicamente assistida (CNPMA).

Entre tantas coisas muito sérias, este conselho é responsável pela elaboração dos consentimentos informados. Que não é nada mais nada menos que os documentos onde informam os utentes dos riscos resultantes das técnicas utilizadas em PMA assim como das suas implicações éticas, sociais e legais. É obrigatório, antes de qualquer prática, ler assinar e devolver ao médico, nada se faz sem que estes documentos estejam assinados por ambos os membros do casal. 

A leis em Portugal ainda terão de evoluir muito principalmente no que toca à idade limite da mulher poder recorrer ao serviço nacional de saúde. Se uma mulher recorrer ao particular pode ir fazendo ciclos de Fertilização In Vitro (FIV) até fazer 50 anos, mas no serviço público essa mesma mulher só pode iniciar ciclos antes dos 40 anos, mas a inseminação artificial (IA) já pode fazer até aos 42 anos.

Agora vejamos aqui algo que acho controverso, a taxa de sucesso da IA na faixa etária acima dos 40 anos é 6,4% e a FIV é de 47,8%, estes valores foram retirados do relatório de PMA de 2017 disponível na plataforma da CNPMA, mas mesmo que esqueçamos este relatório que se refere apenas a 2017,  no separador de técnicas de PMA, a CNPMA refere que a IA tem uma taxa de sucesso de 10% contra os 25-30% da FIV.

Então o que podemos concluir destes números?

Na minha modesta opinião acho que o serviço público anda a gastar dinheiro em tentativas quase falhadas, isto em relação à IA após os 40 anos. Além de ser uma grande hipocrisia. Matematicamente até percebo que se as mulheres acima de 40 anos vão baixar as taxas de sucesso, que o orçamento fica mais pesado, mas uma mulher de 40 anos tem tanta legitimidade como uma mulher de 30 anos. 

Não somos números somos mulheres, estamos a falar de vidas, de sonhos, de famílias.

Portugal é o país onde a taxa de natalidade é a mais baixa da Europa e a segunda mais baixa a nível mundial, gastar um pouco mais de recursos a investir no nascimento de mais bebes acho que será uma forma inteligente de ajudar a aumentar a natalidade. No mesmo relatório de 2017 3,2% dos bebés nascidos em Portugal resultaram devido a técnicas de PMA, pode não ser significativo mas verifica-se que este número tem tendência a aumentar.

Quantos ciclos de FIV/ICSI posso fazer?

Não há um limite de número de tratamentos no particular. Já nos centros públicos cada casal tem direito a 3 IA e 3 ciclos de FIV/ICSI mas temos de ter sempre em conta a idade. Por exemplo no meu caso, iniciei um ciclo de FIV num centro público aos 39 anos, obtive 5 blastocistos, transferi 2 e congelei 3. Assim que fiz os 40 anos, pôde fazer a transferencia dos meus embriões criopreservados, mas já não pôde voltar a fazer um ciclo FIV apesar de ainda supostamente me faltarem 2 ciclos.

Recorrer a estas técnicas através do nosso sistema nacional de saúde, não é de todo um processo simples e rápido, e a cada dia que passa, esse tempo de espera acarreta uma diminuição da probabilidade de sucesso. Para terem uma noção da burocracia e tempos de espera vou dar-mos o meu exemplo. Em Janeiro de 2019 tive a minha primeira consulta na MAC, já tinha muitos dos exames feitos e logo na primeira consulta assim muito directa e friamente a médica disse que existia uma lista de espera de 11 meses e que as obras no departamento ainda tinham atrasado mais as coisas e que fazendo as contas, o meu ciclo FIV iria bater nos meus 40 anos logo não podia iniciar.

Não podia iniciar a FIV mas podia fazer 3 ciclos de IA. 

Não aceitei e arregacei mangas, muito com a ajuda do meu marido, e procurámos outra solução. E foi então que soube por intermédio de uma médica que o hospital de Coimbra tinha uma menor lista de espera.

Por ser um hospital fora da nossa zona de residência tivemos de marcar uma consulta no centro de saúde para marcar uma consulta de especialidade.

Leram bem, eu não me enganei, marquei uma consulta para marcar uma consulta. E andamos assim a encher centros de saúde inutilmente… e o meu tempo a passar.

Mas marcar uma consulta num centro de saúde sem médico atribuído, que é a realidade da maior parte dos portugueses, é uma aventura. Tive de contar a minha história à senhora e com muita compaixão lá me arranjou uma vaga.

Nesta consulta fui atendida por um médico que não sabia mexer no sistema e fazer o pedido de especialidade, e como não sabia queria que fôssemos embora de mãos a abanar.

Tanto eu como o meu marido não somos de nos ficar, e pedimos para falar com a directora do centro. Como o meu marido tinha andado a pesquisar sobre este assunto estava devidamente informado de como se processava, e explicou detalhadamente à directora.

Depois de quase uma hora e muita persistência nossa, lá viemos com o tão desejado papel de especialidade para o hospital de Coimbra.

Mas não ficámos descansados, porque sabemos bem como são estes processos burocráticos. Então demos um tempo de espera e passado um mês o meu marido envia um email para o serviço de PMA de Coimbra a perguntar sobre a nossa marcação uma vez que já tínhamos enviado o pedido de consulta e que estávamos a correr contra o tempo.

Foi então que finalmente nos marcaram a primeira consulta para o CHUC.

Regra de Ouro – informação é poder

Esta foi apenas uma das etapas porque passamos, no próximo post vou contar toda a minha experiência num centro de PMA público e a 250 km da minha zona de residência. 

 

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