Tenho um problema de fertilidade? E Agora? – O inicio

por Monica Sona

Assim que percebi que a procriação medicamente assistida iria ser uma realidade, nesse momento disse ao meu marido, que um dia iria partilhar a nossa história e ajudar outros casais a entender melhor o que é a infertilidade, que passos é que devem tomar para que a infertilidade não os faça desistir da sua vontade em serem pais. Nessa altura ainda nem imaginava o que tinha pela frente.

Nunca quis ter filhos cedo, isso nunca passou pelos meus planos nem do meu marido. Nunca senti o chamamento da mãe natureza como tantas mulheres falam, e como a idade estava a passar por volta dos meus 36 anos começamos então a pensar muito seriamente em aumentar a família.

Fui a uma consulta de rotina e a minha médica aconselhou-me a descontrair e tentar uma gravidez naturalmente durante um ano, visto que já estava a caminho dos 37 anos. Estávamos descontraídos e todos os meses pensava positivamente “vai ser agora”, mas passou um mês e outro e ao fim de 12 meses percebemos que tínhamos de procurar um especialista.

Nunca tivemos problemas ao nosso redor de infertilidade e esse era um não assunto porque nunca achámos que nos podia vir a acontecer. Temos sempre aquela tendência de achar que as coisas só acontecem aos outros.

É verdade que quando me apercebi que tinha de procurar um especialista me deu um arrepio na espinha, um certo pudor, pensei logo na minha incapacidade de procriar naturalmente quando todas as mulheres à minha volta engravidavam tão facilmente.

Mas se calhar não é bem assim.

Além disso não nos temos de comparar a ninguém. Isto não é uma competição, embora muitas mulheres o sintam como tal. Muitos casais à nossa volta sofrem deste problema mas não dizem, nem ninguém é obrigado a dizer, este assunto é privado e cada casal escolhe como viver os desafios das suas relações.

De inicio não contamos a ninguém, estávamos a tentar gerir toda a situação, e confesso que não sei se por vergonha, insegurança ou medo, não estava preparada para olhares de pena ou compaixão. Lembro-me da primeira vez que entrei na ala de PMA tive um enorme receio que alguém que eu conhecesse estivesse no hospital e que me visse entrar.

Como vos disse acima estava cheia de inseguranças e medos, e o que custa é mesmo a primeira vez.

Há medida que os tratamentos vão avançando na sua complexidade, que o tempo vai passando, que temos de nos ausentar muitas vezes do trabalho, que por vezes temos de ficar de repouso em casa, nessa altura “saí do armário” e contei à família, à minha chefia, aos colegas de trabalho mais próximos e aos amigos mais próximos.

Depois de ter aberto o jogo, nem imaginam o alivio enorme que senti, foi como se tivessem tirado um peso enorme de cima de mim.

A partir do momento que se toma a atitude de contar, temos de ter muita abertura para falar do assunto, as pessoas vão perguntar como as coisas estão a correr e em vez de ver isto como pressão temos de ver como apoio. Foi o que fiz e senti sempre uma enorme corrente positiva, que me emocionou sempre muito, a minha chefia e os meus colegas de trabalho foram muito importantes neste processo.

É muito importante ter boa gente à nossa volta, porque nem sempre tudo corre bem e nem sempre estamos positivos 24h por dia e às vezes precisamos só que nos oiçam. Apenas isso, que nos oiçam.

O tempo ganha uma dimensão diferente para nós mulheres. Enquanto os espermatezoídes estarão sempre activos, os nossos óvulos envelhecem e têm uma reserva que chegará um dia ao fim, perdendo assim a nossa fertilidade. E aqui recaí um grande peso sobre os nossos ombros.

Hoje sou mãe e na altura que estava a tentar gostaria de ter encontrado testemunhos reais de pessoas que passaram pelo mesmo e saber o que fizeram para alcançar esse nobre objectivo de ser mamã. Por isso partilharei aqui a minha experiência através de uma série de posts que espero que esclareça acerca de todo o processo, tais como:

  • A infertilidade em Portugal
  • Como encarar este problema
  • Preservação da fertilidade
  • Escolha do centro de PMA
  • Gerir comentários
  • Gerir obstáculos
  • Legislação
  • Controlar as emoções
  • Tratamentos

É importante vos dizer que os temas que irei abordar com vocês são todos baseados na minha experiência, que esta caminhada pode ser muito rápida ou muito longa, e que é importante entrarem nisto de mente aberta, e de forma pragmática avaliarem sempre todas as possibilidades, porque a ciência evoluiu muito e as leis do nosso país também. A oferta de tratamentos que temos hoje são muito superiores de há uns anos atrás por isso fé e pé na estrada.

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6 comentários

Ana Garcez 13 de Novembro, 2020 - 18:49

Senti cada palavra que escreves te de uma forma que muitos não iram preceber. Mas somos uma equipa de trabalho onde todas as derrotas que tiveste durante este processo foram vividas como família e a alegria de ter Miguel encheu o nosso coração ❤💚

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Monica Sona 13 de Novembro, 2020 - 22:44

Muito Obrigada pelo apoio e pelas tuas palavras 😉

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Elsa Fernandes 14 de Novembro, 2020 - 9:21

Lembro-me sempre do teu sorriso, esse ficou marcado em mim. Hoje tens um lindo menino ❤️

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Monica Sona 15 de Novembro, 2020 - 0:08

Obrigada querida Elsa 😉

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Maura Teixeira 15 de Novembro, 2020 - 0:58

Muito obrigada por este teu testemunho. É importante as mulheres perceberem que não têm de ter pudor, não têm de ter vergonha, não têm de se comparar a ninguém. Fico muito contente por tudo ter corrido pelo melhor 🙂

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Monica Sona 15 de Novembro, 2020 - 19:14

Obrigada Maura pelas tuas palavras 😉

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